Desde que me lembro, sempre me senti uma outsider.
Talvez pelo facto de ser filha única e de ter passado grande parte da minha vida comigo mesma, a busca pelo meu Eu mais intrínseco tornou-se no objectivo da minha existência.
Este estado de introspecção transportou-me através de uma viagem emocional sem retorno. Tenho uma forma de ver, tocar, respirar, saborear e viver a vida muito própria. Muito minha.
Recordo-me que quando tive o primeiro contacto com a poesia de Fernando Pessoa senti que tinha encontrado alguém que conseguia relatar na perfeição aquilo que eu experienciava mas não conseguia exprimir. Foi um ponto de viragem. Nunca mais voltei a sentir-me sozinha. Alguém, algures no espaço e no tempo, conheceu a minha inquietação.
No que diz respeito às minhas opções académicas, os meus interesses caminhavam todos na mesma direcção. As áreas que me permitissem transmitir e extravasar o meu mundo interior tais como a literatura, a poesia, a pintura e a escultura estavam e continuam a estar no meu pódio de preferências. Matriculei-me em Artes e foram três anos de auto-conhecimento e aprendizagem únicos. Não seria a pessoa que sou hoje se não os tivesse vivido da forma pura e intensa como vivi.
Mas a razão acabou por se impor ao coração. Terminado o secundário, candidatei-me ao curso de Comunicação Social, uma opção um pouco mais racional e onde achava eu, poderia continuar a exprimir-me, a dar voz ao Eu , ao Tu, ao Nós...Acabei por descobrir que o mundo que julgava ser de todos não era o mesmo em que eu vivia. Ainda que não tenha sido a escolha mais fácil, optei por continuar a viver no meu.
Hoje vejo o mundo através dos olhos de uma criança, os olhos mais belos que alguma vez contemplei, os do meu filho, que do alto dos seus 3 anos me mostra todos os dias que o valor da vida está nas coisas mais simples.
E eu viverei eternamente pela mão deste pequeno grande ser que tanto amo através do amor incondicional que lhe dedico.